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ELEMENTOS DO MODELO MILTON EM UMA CONVERSAÇÃO

Quem participou do Curso sobre o Modelo Milton de Comunicação já tem uma boa noção dos termos que utilizarei aqui, para ilustrar exemplos de como podemos utilizar esta fantástica forma de comunicação 'indireta' para auxiliar as pessoas.
Vou indicar neste post alguns casos em que você pode aplicar a técnica, mas saiba: Nem sempre você precisa usar todos os elementos para conseguir um resultado satisfatório.
Vale aqui apenas lembrar alguns fatores essenciais para seu sucesso:

1 ª - Rapport - Se você não entrar em sintonia com a pessoa com quem você vai conversar, dificilmente conseguirá "entar no seu mundo" e retirá-la da situação limitante em que ela vive. Lembre-se de se postar de maneira idêntica à da pessoa, a falar no mesmo tom de voz, a olhar nos olhos, a usar os mesmos termos que ela usa (visual, auditivo, cinestésico...). Se não conseguir identificar o modelo representacional dela, use termos gerais para falar (ao invés de "vejo o que você está querendo me mostrar", por exemplo, pode dizer: "entendo bem o que você está me informando").
2ª - Procure sempre utilizar termos que estejam de acordo com o modo de vida da pessoa. Não adianta por exemplo, usar termos como "hardware", "software", que são mais conhecidos por quem tem contato com a informática, para pessoas que mal tem contato com um computador, não acha? Para um pedreiro, use termos como "trabalho duro", "construção", "preparar a massa"... e por ai vai.
3ª - Lembre-se sempre de "quebrar o padrão" quando a pessoa com quem for conversar tiver algum comportamento que a mantenha "presa" ao problema. Quebrar o padrão é sempre fazer algo inesperado, que leva a atenção da pessoa à você, distrai o consciente e deixa o inconsciente aberto para novas idéias.  
Ex: No filme "A escola da vida", o professor centro da história sempre surge para os seus alunos caracterizado como um dos personagens de suas matérias. Resultado: os alunos sempre esperavam algo novo dele, mas nunca sabiam o que viria. Com isso, outros professores passaram a imitá-lo e alunos de outras salas queriam assistir às suas aulas (e aprendiam). Há outros exemplos que citarei  mais adiante.
4ª - No modelo abaixo, em que um amigo resolve tirar outro de um estado depressivo e convidá-lo para uma festa, mostro como se utiliza os nove elementos da Indução, mas, lembre-se que ás vezes basta um, desde que bem aplicado logo após a "quebra de padrão".

1ª Fase - Permissão, Validação, observação/utilização (com rapport)
Nesta fase, fazemos o possível para observar o que está acontecendo com a pessoa que queremos ajudar/persuadir. Prestamos atenção em seu tom de voz, sua postura, o que faz... e também no que ela está sentindo naquele momento, validando este sentimento (afinal, quem está sentindo é a pessoa, e ela sabe o que está passando). Assim, iniciamos um processo de confiança.

Acompanhe (Os nomes são fictícios, mas a história é real):
- Valter  é recebido por João em sua casa. O rapaz passou pelo término de um namoro que durara três anos. O problema é que este rompimento já havia ocorrido há pelo menos dois meses, e ele ainda estava deprimido. Assim que Valter entrou na casa, o amigo já foi para o sofá e ligou a televisão. Sua aparência era triste (e ele fazia questão de demonstrar isso).
"Como vão as coisas, cara? Vim te convidar pra gente ir na festa amanhã.", pergunta e convida Valter, ainda em pé e com voz forte.
"Ah... esse negócio de festa não vai dar pra mim. Como tem sido nos últimos dias, nada tem graça!", respondeu o deprimido amigo, em um tom baixo.
Valter se sentou ao lado do amigo no sofá. Recostou-se como ele estava recostado, e baixou um pouco o tom de voz (espelhou a postura do amigo - rapport). "Puxa... tô percebendo que você tá mesmo bem acabado, não é?". (validando o que vê no amigo)
"E como...", suspirou o amigo.
VAlter acompanha o suspiro do amigo, e fica alguns segundos em silêncio. Depois diz:
"Pois é, meu caro... Dá pra entender... O seu coração ainda está dolorido, não é?" (validando o sentimento).
"Muito dolorido... não sei o que fazer pra sair dessa".
"Mas você PODE sair, e você sabe, não é mesmo?"
"Eu sei... mas como? Não consigo pensar em nada!" (Eis aí a primeira permissão para ser ajudado)

2ª Fase - Evocação
Nesta fase, se procura comparar o estado em que a pessoa está com outros que ela já viveu negativamente ou positivamente. Neste caso, a idéia é fazer o rapaz se lembrar que já passou por outros momentos ruins na vida e saiu deles.

Siga:
- Ainda recostado no sofá, em total sintonia com o amigo, Válter diz:
"Sabe... tava aqui pensando... Você se lembra de alguma vez que já tenha passado por um momento tão brabo como esse que você está vivendo agora? Melhor ainda...lembra de um momento dificil de sua vida que você enfrentou e que agora é simplesmente lembrado como algo insignificante, pois você conseguiu SAIR VITORIOSO?"
O amigo busca pela memória, olha para cima, para os lados, para baixo...
"Não... talvez... pra falar a verdade, não sei. Já passei por tanta coisa..."
"Exatamente! Já PASSOU por muita coisa! Ah... pensa aí! Eu sei que você só está aqui hoje porque já VENCEU um bocado de dificuldades em sua vida." (já está aí a primeira sugestão).
"Hum....não consigo lembrar algo específico, mas entendo o que você está dizendo", diz o amigo, seguindo-o (e agora já até esqueceu a televisão, O QUE JÁ É UMA QUEBRA DE PADRÃO).

3ª Fase - Teste da Sincronização e partindo para as sugestões
- Valter se movimenta, vira-se de frente para João. Ele se vira pra ele também (teste mostra sucesso na sincronização, pois o amigo já começou a seguí-lo). Valter aproveita para mais UMA QUEBRA DE PADRÃO: tirar o amigo da posição em que se mantém como vitima deprimida, no sofá. "Você tem refrigerante ou alguma outra bebida na geladeira? Tô com a garganta seca, cara!".
O amigo diz que não tem refrigerante, mas tem café. "Pode pegar na cozinha", diz ele.
"Não, vamos lá pegar comigo", diz Valter, e o amigo acaba obrigado a sair do sofá.
Na cozinha, Valter se senta em uma das cadeiras que lá estão, e João despeja café em um copo.
Enquanto isso, Valter aproveita para iniciar um conjunto de dicas.
"Cara, em sua casa ou na rua, numa igreja ou num bar... Não sei qual seria a sua escolha, mas eu aposto que, como em outras oportunidades, você ficar bem mais animado do que está agora". (Pressuposição).
"Será?", responde o amigo, sentando-se também (a sincronia continua).
"Com certeza! Há pouco, por exemplo, vi que você estava muito triste, acabrunhado... mas agora, tô vendo em seus movimentos, no seu olhar, nas roupas que você tem vestido... que, na verdade, você está é se sentindo fraco. Estou certo?" (Descrição - não adivinho o que acontece. mas descrevo o que vejo e pergunto se estou certo).
"Realmente! Tenho me sentido como alguém que não consegue achar uma saída, não consigo pensar..."
"Mas percebo também que aí dentro tem um cara lutando para sair dessa! Um cara batalhador, que não admite ser dominado deste jeito, e que pode achar alternativas. Eu sinto que você já está entrando nesta fase de reação, não está?" (Palavras de permissão e transferência de poder - É o amigo que PODE descobrir o jeito de sair da depressão).
"Na verdade, eu preciso sair dessa. Não dá pra ficar neste sofrimento... mas cada vez que eu me lembro do que aconteceu... volto a ficar triste.
"Hum... Vamos colocar as coisas numa balança? De um lado você põe tudo que você viveu de triste, e do outro, as coisas boas que você já FEZ!" Ao dizer isso, Valter faz um gesto como se colocasse um prato da balança de um lado da mesa, e o outro na outra ponta. (Divisão). "Cada vez que você se lembra do que é ruim (aponta para o lado em que está o prato negativo), você se entristece. Cada vez que se lembra do que é legal (aponta para o outro lado), com certeza melhora o astral".
"Mas ái é que está a questão. Como fazer pra não cair mais nessa de ficar sofrendo?" (Mais uma permissão dada pelo amigo para ser ajudado. Ele está pedindo socorro!).
É uma das deixas que Valter esperava!
"Eu conheço um cara que já passou por isso que você está passando, amigo. Ele descobriu que quando ia para o sofá e tentava relaxar assistindo televisão, a coisa só piorava. Tudo melhorou quando ele resolveu DAR UM BASTA" Valter dá um soco na mesa, em mais uma quebra de padrão. Depois continua falando e gesticulando para fortalecer a sugestão:  "Tomou um banho, pôs uma roupa legal, começou a ligar para os amigos, resolveu sair de novo e acabou conhecendo UMA AMPLA GAMA DE NOVAS OPORTUNIDADES". {Aqui, Valter usou, ao mesmo tempo, a Ligação (o sofá - depressão. Falar com os amigos - cura!), revelou as ÂNCORAS que levavam o amigo a ficar triste (sofá, televisão), e foi direto ao inconsciente com o uso de uma metáfora (Usou a história de outro colega para falar do que o amigo vivia)}.
"Ééééé mesmo, cara...", o amigo ficou pensativo com as palavras de Valter (o inconsciente já estava trabalhando).
Por fim, Valter resolveu dar a sugestão final, e para isso QUEBROU O PADRÃO NOVAMENTE. Ele se levantou bruscamente e deu uma suspirada forte, e depois disse de maneira bem firme, intercalando as palavras que mais lhe interessavam: "Bem! Vou dar um PASSEIO agora! Tem um PESSOAL LEGAL pra encontrar no BAR DO ZÉ. Hoje vai ser MUITO BOM. Amanhã, passo aqui e, se você quiser, vou te levar também para um PASSEIO no BAR DO ZÉ, você PODE encontrar um PESSOAL LEGAL e decidir se vale a pena ficar nesta depressão ou não. Eu aposto que VAI SER MUITO BOM. Amanhã nos vemos!", disse, se despedindo sem dar chance de o amigo dar qualquer desculpa. (Intercalação: A pessoa vai ligar "Passeio" a "Pessoal Legal", no "Bar do Zé", e que tudo isso é "Muito bom").

Resultados prováveis:
- O amigo, assim que Valter sai, volta para o sofá. No entanto, o seu inconsciente ainda está sob efeito das palavras do colega, e ele não se sente à vontade. Agora já não consegue prestar atenção à TV. Então começa a sentir o mau cheiro proveniente de alguns dias sem tomar banho e sem dormir direito (e das roupas usadas de maneira repetitiva). O seu inconsciente não vai dar sossego enquanto ele não tomar um banho e trocar de roupa. Com isso, vai relaxar um pouco mais e vai dormir, o que vai permitir que tudo que foi dito fixe de maneira ainda mais potente em seu inconsciente.
- No dia seguinte, há pelo menos 90% de probabilidades de Valter chegar e encontrar o amigo pronto para sair, talvez ainda com um pouco de receio, mas agora mais disposto a enfrentar o desafio. Isso se de repente ele não resolver ir ao BAR DO ZÉ naquela mesma noite, para encontrar O PESSOAL LEGAL apontado pelo amigo.


Em tempo:
Vale lembrar que nesta sugestão foram dados todos os elementos da Linguagem Hipnótica, mas, como já disse, você muitas vezes nem vai precisar usar todos eles.
Exemplo 1: Uma mulher vivia dizendo que era feia, que ninguém lhe dava valor, e não prestavam atenção aos seus problemas. O problema é que a cada vez que ela reclamava sobre isso com uma amiga, passava a ouvir conselhos, ficavam horas conversando, mas no outro dia o padrão de "coitadinha" voltava a agir. Um dia, quando começou a reclamar, a amiga, ao invés de dar conselhos, deu um salto da cadeira, a pegou pela mão e disse: "Depois você me conta o que está acontecendo. Hoje eu quero muito assistir um filme que me indicaram, e não vou se você não for comigo!". (Quebrou o padrão de entrar em mais uma longa conversa de "oh, que sofrimento, oh, como sou feia, etc...).
Ela foi...
O filme era sobre uma dona de casa que vivia mal vestida por ter que cuidar da casa, enquanto o marido vivia no bem bom com amantes e tudo mais. Ela acabou abandonada e resolveu ir à luta: Aprendeu dicas de maquiagem, como se vestir melhor, a ser firme em suas decisões, e deu a volta por cima. (O filme é sempre uma metáfora que permite ao inconsciente encontrar elementos idênticos à história real e a buscar a mudança).
No outro dia, a mulher ja foi ao trabalho com outro astral, e agora já não mais fazia reclamações, mas pedia novas dicas de como ajeitar o cabelo, os olhos, os seios...

Exemplo 2: Um homem entra em uma loja para comprar um carro de luxo, mas só havia carros esporte. O vendedor, em sintonia com o jeito firme e até arrogante do comprador, e mesmo sabendo o que ele  queria, diz: "Estou vendo que o senhor é um grande homem de negócios, BATALHADOR, LUTADOR, mas também me parece ser bem sóbrio em suas escolhas, além de ser altamente capaz para escolher o melhor para si... acho que um carro esporte seria um DESAFIO que talvez não queira enfrentar, afinal, ele é muito POTENTE! (uma pressuposição de que ele não conseguiria dirigir, ou só pessoas FORTES conseguiriam fazê-lo)".
Além de fazer evocações, pressuposições e transferência de poder (Batalhador, lutador, sóbrio, CAPAZ de escolher o melhor para si), o vendedor tocou o homem exatamente em seu ponto fraco (Desafio), e este, claro, comprou o carro esporte.

Exemplo 3: A professora escrevia na lousa quando algumas crianças jogaram alguns livros no chão para assustá-la. Ao ouvir o barulho, ela realmente se assustou, e as crianças começaram a rir. Ela, quase no mesmo momento, também jogou o seu livro no chão e reclamou: "Ah... assim não vale. Não foi ao mesmo tempo! Vamos fazer juntos?". Então pegou o livro e começou a contar: 1,2,3 e o jogou. As crianças a seguiram.
Ela então disse: Tenho umas coisas legais pra ensinar vocês a fazerem dentro desta brincadeira, mas só vai dar se a gente conseguir copiar estes textos a tempo. Será que vocês conseguem?". As crianças gritaram que sim, copiaram a lição e depois ela aproveitou para ensinar algumas brincadeiras como "Escravo de Jó" e outras.
A professora nada mais fez que quebrar o padrão das crianças (fez algo inesperado, pois elas esperavam que ela se assustasse e sofresse por isso) e depois as fez sentir que 'copiar a lição' era uma escolha delas, para depois poderem brincar.
Importante: Como a promessa era de que haveria brincadeira depois, ela foi cumprida (Até nisso entra a ética: persuadir para enganar pode gerar uma falta de confiança que jamais será revertida).

Exemplo 4: Já viu como os principais politicos e as principais propagandas dificilmente são específicos? Esta é uma regra da Comunicação Hipnótica: Você diz o que vai fazer de maneira geral, e a outra pessoa DECIDE no que acredita de sua fala.
"Vou defender o aposentado (você decide como acreditar nesta defesa), fazer muita coisa pela Educação (você sabe do que a Educação precisa), lutar por moradia, saúde e segurança (É tudo que queremos, mas esquecemos de perguntar "como" ele vai fazer isso)!".

E por aí vai...

Você consegue pensar em outras dicas?

Eu acredito que consegue, e talvez até já tenha utilizado muitos destes elementos em algum momento de sua vida e nem se lembra (quando ajudou aquela amiga, deu dicas a uma parente, consolou uma pessoa que estava triste, convenceu uma pessoa a fazer algo que ela não queria, mas era necessário, 'salvou o dia' com uma boa idéia no trabalho... )



É só seguir o mesmo principio!


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